ATRIBUTOS DE DEUS
Parte 1 (l)
A infinitude de Deus: Eternidade e
Onipresença
Segundo Hodge, “espaço, tempo e infinidade estão entre os
problemas mais difíceis para o pensamento humano”. “A infinitude de Deus,
relativamente ao espaço, é sua imensidão ou onipresença; relativamente à
duração, é sua eternidade”. Convém ter em mente que a infinitude de Deus não se
limita apenas a espaço e tempo, uma vez que Sua infinitude abrange todo o Seu
ser e também todos os Seus atributos. Seu amor, Sua santidade, Sua sabedoria,
Sua ira, Sua justiça, etc. são todos infinitos.
A eternidade é realmente uma das coisas mais difíceis para a
mente humana conceber. Só Deus é eterno; só Deus “habita a eternidade” (Is
57.15); “de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Sl 90.2). É interessante
notar a expressão utilizada pelo Espírito Santo ao Se referir a Melquisedeque,
dizendo que ele “não teve princípio de dias, nem fim de existência”, e que “foi
feito semelhante ao Filho de Deus” (Hb 7.3). Calvino ressalta que ele era um
“tipo de Cristo” e que “ao mostrar-nos Melquisedeque como alguém que nunca
nasceu e que nunca morreu, a Escritura está retratando a verdade de que, para
Cristo, não existe nem começo nem fim”. “No princípio, criou Deus os céus e a
terra” (Gn 1.1). “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o
Verbo era Deus” (Jo 1.1). Deus não teve princípio nem terá fim!
Absolutamente tudo o que conhecemos teve um começo, por isso
é extremamente difícil conceber que algo ou alguém possa não ter tido um
início. A matéria e a energia não são eternas. Só Deus o é. Matéria e energia
foram criadas. “Pela fé, entendemos que o universo foi formado pela palavra de
Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (Hb
11.3). Todo o universo foi formado unicamente pela palavra de Deus.
Obviamente, pode-se argumentar que, se energia é uma
propriedade que permite a realização de atividade ou trabalho, então Deus,
antes da criação do mundo, pelo eterno poder que tem de realizar tudo o que Lhe
apraz, já possuía energia, portanto esta, existindo desde sempre, seria eterna.
Todavia, a energia, conforme a conhecemos, está estreitamente vinculada à
matéria, e, nas transformações que ocorrem entre as suas várias formas, ela
nunca é criada ou perdida dentro de um sistema fechado. A massa (matéria) de um
corpo pode se transformar em energia, mas o total de matéria e energia de um
sistema permanece o mesmo. Quando dizemos que matéria e energia não são eternas,
estamos apenas dizendo que a matéria e a energia, tais quais as conhecemos,
intrinsecamente relacionadas entre si no sistema que conhecemos como universo,
foram criadas juntamente com ele, e não existem desde a eternidade passada.
Embora seja extremamente difícil conceituar tempo e espaço,
todos nós temos uma noção do que eles sejam. Como toda a criação está sujeita
aos parâmetros de tempo e espaço, é para nós praticamente impossível conceber
algo ou alguém que não esteja sujeito a esses parâmetros, isto é, que estejam
fora do tempo e do espaço. Vamos pensar um pouco sobre tempo e espaço, de uma
maneira extremamente simples e, certamente, bastante imprecisa, apenas para
refletirmos um pouco a respeito do assunto.
Conforme são entendidos comumente pelas pessoas, o tempo e o
espaço surgiram com a matéria. Eles existem sempre com referência à matéria. O
espaço seria a distância entre pontos, a distância entre objetos materiais ou a
área ou volume circunscritos entre determinados limites materiais. Se não temos
a matéria como referência, ainda que imaginária, perdemos a noção de espaço.
“O tempo é um meio
contínuo e indefinido no qual os acontecimentos parecem suceder-se em momentos
irreversíveis” (A.B.H. Ferreira).
O tempo seria detectado pelas alterações causadas na
matéria, que pode ser diferente em diferentes momentos. O tempo nos dá a noção
de passado, presente e futuro, pois o estado e as circunstâncias da matéria
variam em momentos sucessivos. Há definições que contrapõem o tempo à
eternidade ou que inferem as alterações por ele causadas na matéria. Ex.: tempo
- “duração limitada, por oposição à idéia de eternidade”; “meio indefinido onde
se desenrolam, irreversivelmente, as existências na sua mutação...” (Novo
Dicionário da Língua Portuguesa)
Todavia, creio que o tempo e o espaço devam ter surgido não
com a matéria, especificamente, mas com a criação, pois os seres espirituais,
como parte da criação, também devem estar sujeitos aos parâmetros de espaço e
tempo (Dn 9.21-23; Ap 7.1,9;8.1;11.2,11;14.6,17,18;15.5;17.1;18.1;19.1;20.1;21.9).
Como tudo que conhecemos está sujeito a espaço e tempo,
temos dificuldade em imaginar um Ser que existe fora deles. Todavia, dizemos
que Deus está fora do espaço e do tempo, no sentido de que Ele existia antes da
criação e tudo, fora do Ser de Deus, foi criado por Ele. Como nossa noção de
espaço e tempo estão obrigatoriamente ligadas à criação, dizemos que Deus
existe fora deles. “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1) e “o
universo foi formado pela palavra de Deus” (Hb 11.3).
Aparentemente, seria
mais fácil conceber a onipresença do que a eternidade de Deus. Todavia, creio
que o conceito bíblico de onipresença seja tão difícil para a mente humana
quanto o de eternidade. Segundo Grudem, “Deus não tem tamanho nem dimensões
espaciais e está presente em cada ponto do espaço com todo o seu ser”. A
onipresença não é meramente física, como Deus ocupando todos os lugares do
espaço. Todavia, para que tenhamos alguma idéia do que seja a Sua onipresença,
o Senhor diz: “Porventura, não encho eu os céus e a terra?” (Jr 23.24).
Às vezes, na tentativa de dar uma remota idéia de
onipresença, tentam compará-la com o ar que, onde vivemos, estaria praticamente
em toda parte. Todavia, sem considerar os lugares onde o ar não está presente,
essa ilustração é muito equivocada, pois o ar que está num lugar não está em
outro. As moléculas que estão num lugar não estão em outro. Mas, “Deus está
presente em cada ponto do espaço com todo o Seu ser”. Portanto, Deus está todo
Ele, presente, em todo lugar, o tempo todo!
Dagg diz que “a Deidade inteira está presente em toda a
parte”, que Deus “é capaz de estar totalmente presente, ao mesmo tempo com cada
uma de Suas criaturas, sem nenhuma divisão de Sua essência e sem a remoção de
um lugar para outro”. Dagg faz uma outra comparação que, embora interessante,
também apresenta falhas, como ele mesmo aponta. Diz ele que podemos afirmar que
o tempo “é algo onipresente; pois o mesmo momento ocorre na Europa e nas
Américas, em Saturno ou bem no interior da Terra”. Mas, como ele mesmo diz, “o
tempo tem a sua medida, e um momento de tempo não é a mesma coisa que a
eternidade”. Além disso, nosso conceito de tempo tem sido modificado ao longo
do tempo!
Em resumo, a Bíblia diz que Deus é eterno e é onipresente.
Embora não sendo precisamente correto, talvez o mais próximo que possamos
chegar de compreender o que isso significa é que Deus nunca teve início e nunca
terá fim, e que Deus está presente, todo Ele, em todos os lugares ao mesmo
tempo, o tempo todo.
Esse entendimento, embora com falhas, deve ser motivo de
grande temor e apreensão para aqueles que não tratam Deus com a reverência que
Lhe é devida ou que O deixam de lado como se não existisse e, ao mesmo tempo,
motivo de grande alegria e segurança para os Seus filhos. Deus é uno. Quando
oramos, não oramos para uma parte dEle, enquanto outra Se preocupa e está
envolvida com outras coisas. Não. Cada um de nós ora ao único Deus, ao Deus
indivisível e onipresente. Todo o Ser de Deus nos ouve e trata a cada um como
se fosse o único. Creio que mais do isso é difícil compreender. Não nos
esqueçamos: Deus é incompreensível!
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