quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Uma História Contemporânea

A título de introdução, gostaria de reproduzir aqui a história que David Platt, o jovem pastor sênior da Church at Brook Hills em Birmingham, Alabama, EUA, conta no seu livro “Radical”. Ele conta de uma viagem que fez a um país asiático cujo nome ele preferiu não dizer por questões de segurança dos crentes daquele país. Segue um trecho do relato:



“[…] No meu primeiro dia com estes cristãos, eles simplesmente me pediram para dirigir um estudo bíblico. ‘Por favor, encontre-nos amanhã às duas horas da tarde’.

Então comecei a me preparar para um estudo bíblico curto e fui ao local designado, onde mais ou menos 20 líderes de igrejas nas casas estavam esperando. Eu não me lembro de quando nós começamos, mas me lembro de que oito horas mais tarde ainda continuávamos firmes. Nós estudávamos uma passagem e então eles perguntavam
sobre outra. Isto levava a outro tópico, depois a outro e no final do dia ossas conversas tinham ido de sonhos e visões a línguas e a Trindade.

Já era tarde da noite e eles queriam continuar estudando, mas precisavam voltar para suas casas. Então eles perguntaram aos dois dos principais líderes e a mim: “Podemos nos reunir amanhã novamente?”.

Eu disse: “Ficarei feliz em fazê-lo. Vamos nos reunir no mesmo horário?”.

Eles responderam: “Não, queremos começar cedinho de manhã”.

Eu disse: “Ok. Quanto tempo vocês querem estudar?”.

Eles responderam: “O dia todo”.

Assim começou um processo no qual, nos próximos dez dias, por oito a doze horas por dia, nós nos reuníamos para estudar a Palavra de Deus. 

Eles estavam famintos.
No segundo dia eu apresentei a estes relativamente novos cristãos a história de Neemias. Eu dei a eles o contexto e a história deste livro da Bíblia e lhes mostrei em Neemias 8 a importância da Palavra de Deus.

Depois tivemos um pequeno intervalo e eu vi os líderes, em todos os pequenos grupos, conversando seriamente sobre alguma coisa. Alguns minutos mais tarde um deles me abordou. “Nós nunca aprendemos nenhuma destas verdades antes e nós queremos aprender mais” ele disse. 

Então ele soltou a bomba. “Você estaria disposto a nos ensinar sobre todos os livros do Antigo Testamento enquanto estiver aqui?”

Eu ri. Sorrindo eu disse: “Todo o Antigo Testamento? Isso levaria muito tempo”. 

A esta altura outros se juntavam à conversa, e eles disseram:
“Faremos o que for necessário. A maioria de nós é fazendeiro e trabalhamos o dia todo, mas deixaremos nossas terras abandonadas pelas próximas duas semanas se pudermos aprender o Antigo Testamento”.

E foi isso que nós fizemos. No dia seguinte eu os conduzi por um panorama da história do Antigo Testamento. Então começamos em Gênesis e nos dias que se seguiram nós caminhamos pelos pontos e temas principais de cada livro do Antigo Testamento. Imagine ensinar o Cântico dos Cânticos a um grupo de cristãos asiáticos, muitos dos
quais nunca leram um livro antes, orando pra que eles não fizessem nenhuma pergunta!

Quase já no último dia nós terminamos Malaquias. Eu tinha mais doze horas para ensinar e não tinha a menor ideia do que dizer. Uma vez que você tenha ensinado Habacuque, o que mais há para ensinar?

Então, no último dia, eu comecei ensinando um assunto qualquer. Mas dentro de uma hora fui interrompido por um dos líderes. “Nós estamos com um problema” ele falou.
Preocupado que eu tivesse dito alguma coisa errada, respondi: 
“Qual é o problema?”.

Ele disse: 
“você nos ensinou o Antigo Testamento, mas você não nos ensinou o Novo Testamento”.

Eu sorri, mas ele estava sério.

“Nós gostaríamos de aprender o Novo Testamento hoje”, ele disse. Como outros líderes na sala concordaram, eu não tinha escolha. Pelas próximas onze horas nós fomos rapidamente de Mateus a Apocalipse. Imagine só, ir a uma reunião de culto numa dessas igrejas nas casas. Não um dia todo de treinamento na Palavra. Somente um culto normal de três horas no final da tarde. 

O cristão asiático que o levará até lá lhe dá as instruções: “Ponha calças escuras e um casaco com capuz. Nós o colocaremos no banco de trás do carro e o levaremos pra dentro da vila. Por favor, fique com o capuz na cabeça e olhando pra baixo”.

Quando você chega à vila escondido pela escuridão da noite, outro cristão asiático o encontra na porta do carro. “Siga-me” ele diz. Com o seu capuz na cabeça, você se esgueira para fora do carro mantendo seu rosto virado para o chão. Você começa a andar com os olhos fixos nos pés do homem à sua frente enquanto ele o leva por um
longo e tortuoso caminho com uma pequena lanterna. Você escuta mais e mais passos à sua volta à medida que progride no caminho.

Então, finalmente você vira a esquina e entra numa pequena sala. Apesar do tamanho, sessenta cristãos se espremem lá dentro. Eles são de todas as idades, de preciosas pequeninas a homens de sessenta anos. Eles estão sentados no chão ou em pequenos bancos, ombro a ombro, amontoados com suas Bíblias no colo. O telhado é baixo e uma lâmpada balança no meio do teto como única fonte de iluminação.

Nenhum sistema de som.

Nenhuma banda.

Nenhuma guitarra.

Nenhum entretenimento.

Nenhuma cadeira acolchoada.

Nenhum prédio aquecido ou com ar-condicionado.

Nada a não ser o povo de Deus e a Palavra de Deus.

E, estranhamente, isto é o suficiente.

A Palavra de Deus é o suficiente para milhões de cristãos que se reúnem em igrejas nas casas como essa. A Sua Palavra é suficiente para milhões de outros que se amontoam nas selvas africanas, nas florestas sul americanas e nas cidades do meio oeste.
Mas a Sua Palavra é o suficiente para nós?”

(Extraído do livro “Radical” de David Platt – Multnomah Books – Tradução: Priscila
Bernardi Heyse)

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